Ao Sabor do Erotismo
Foi assim... Na voz de
Octavio Paz no seu livro: Mito e sexualidade. P. 184 – 119
.(...) na história do
Ocidente, o amor sempre foi poder subversivo secreto: a grande heresia
medieval, o dissolvente na moralidade burguesa. (...) Nos primeiros séculos de
nossa era, os gnósticos tentaram erotizar a cristandade e malograram. Hoje,
assistimos a um esforço contrário: a politização do erotismo. (...) Assim,
através de um processo curioso, nossa era transforma a sexualidade em ideologia.
Faz do prazer uma obrigação. Puritano ao avesso. A indústria muda o erotismo em
negócio e a política o transforma em opinião. (...) A sexualidade é animal: é
uma função animal, ao passo que o erotismo se desenrola dentro da sociedade.
Aquela pertence ao reino da biologia, este ao da cultura. Sua essência é o
imaginário: o erotismo representa uma metáfora da sexualidade. O erotismo não é
sexo bruto, mas sexo transfigurado pela imaginação. (...) A derradeira
consequência da rebelião erótica será o desaparecimento do erotismo e daquilo
que foi a sua mais sublime e revolucionária invenção: a ideia do amor. Segundo
Rubem Alves, não foi á toa que Adélia Prado disse que “erótica é a alma”.
Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos
mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela
vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista um corpo vazio
de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não
sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser
feita quando se pretende casar: “Continuarei a ter prazer em conversar com esta
pessoa daqui a 30 anos”?
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