ALTeriDADe
Depois de coisificar e destruir o outro em nós, produzimos um outro como diferença
Coisificar o outro significa coisificar a si próprio
Destruir o outro significa destruir a si próprio
Estes são os novos sinais dos tempos, sinais concretos e muito próximos, que mexem cada vez mais com a vida de cada um de nós. Pergunta-se, o que estes sinais dos tempos têm a ver com cada um de nós como profissional, cidadão e pessoa humana? Vamos tentar entender isso melhor.
Segundo o professor Laurício Neumann indiscutivelmente vivemos hoje no Brasil, na América Latina e no mundo a pior crise de identidade de todos os tempos. Esta crise revela uma profunda quebra de valores sobre o valor da vida e da pessoa humana, sobre os valores da dignidade humana e os direitos fundamentais da pessoa. Esta crise revela também uma distorção do conceito da vida, da pessoa humana, da sociedade e da organização da vida em sociedade.
Jean Beaudrillard, referindo-se a esta crise civilizacional de valores, no seu livro A cirurgia da Alteridade, O Crime Perfeito (1996), afirma que “A liquidação do Outro é duplicada por uma síntese artificial da alteridade, cirurgia estética radical, de que a do rosto e do corpo não é senão o sintoma. Porque o crime só é perfeito quando as próprias marcas da destruição do Outro desapareceram”.
Com a modernidade, continua Baudrillard, “entramos na era da produção do outro. Não se trata já de o matar, de o devorar, de o seduzir, de rivalizar com ele, de o amar ou odiar – trata-se em primeiro lugar de o produzir. Já não é um objeto de paixão, é um objeto de produção”. Para entender melhor esta crise de valores fundamentais e de relações entre as pessoas, Baudrillard se pergunta, “Acaso não será que o Outro, na sua singularidade irredutível, se tornou perigoso ou insuportável, e seja preciso exorcizar-lhe a sedução? Acaso não será que, muito simplesmente, a alteridade e a relação dual desaparecem progressivamente com a ascensão em força dos valores individuais?”.
A reflexão de Baudrillard continua, “A verdade é que a alteridade vai faltando, e que é preciso absolutamente produzir o Outro como diferença, em lugar de viver a alteridade como destino. Isto é igualmente válido para o corpo, o sexo, a relação social. É para escapar ao mundo como destino, ao corpo como destino, ao sexo (e ao outro sexo) como destino, que se inventa a produção do Outro como diferença”.
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