por Márcio Vassalo
O silêncio é o despertador da poesia. Então, quando os poetas escrevem, mais quietos que onça na caçada, a palavra se espreguiça toda, levanta da cama, e amanhece.
Mas com Manoel de Barros a poesia dorme na terra, no chão, em galho de árvore. E fica virando de um lado para o outro a alma da gente. Numa dessas reviradas, o próprio Manoel escreve: "o que dá grandeza a um poeta não é o assunto que ele usa, mas a maneira com que trata o assunto. Na realidade, o que dá grandeza ao Manoel é o modo como ele acha boniteza em tudo quanto coisa miúda. Afinal, Manoel de Barros pega infinito em antena de mosca, colhe flor lascada na pedra, faz buquê de caramujos, pisa em lamas lapidadas, entorta paisagens só para o amor caber nelas.
Bem, a verdade é que os poemas do Manoel não são para ninguém entender, como ele mesmo já disse. São para a gente esfregar nos olhos, espreguiçar e despertar mais feliz. Enfim, quando o Manoel escreve, a poesia acorda arrepiada de sol, mas quem amanhece é o leitor.
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