TEMPEROS DA ALMA

Segundo Sartre, o poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais, a sua obra como um fim e não como meio, mas como uma arma em combate. Nietzsche , buscou na arte uma aprendizagem para Filosofia, mais ainda: uma experiência de vida em plenitude. Assim, por acreditar que há uma cumplicidade entre Arte e Filosofia que ambas são janelas através das quais podemos vislumbrar outras possibilidades para o pensar, analisar, comparar, conceituar e provocar mudança de atitude diante do que a vida tem de diferente .Além disso a Filosofia e a Arte provocam uma ação de desnudamento da ética e estética acordando palavras adormecidas, desencantando , encantando outras tantas palavras ditas e mal ditas. Mergulhada sobre a égide da minha própria existência como uma obra de arte em construção, da capacidade de ver no outro um outro de mim mesma e como alguém que usa da mística de encantar tornando mágico o existir lançando de outros olhares para Filosofar; compreender e viver melhor ! bem, essas foram as razões que me impulsionaram a criar esse espaço. Entre!! aqui é a nossa ágora. Traga o teu tempero: sal, alho, cravo,canela, cominho, mel, limão, gengibre ,colorau, cebola , camomila, gengibre, flores, cores, sabores , perfumes para Filosofar, Poetizar...Explicar o inexplicável, no explicável se perder para se achar,há em todos a loucura de cada um Ah! Vejo flores em você! Flor do Cerrado

domingo, 15 de maio de 2011

O DeS (SABOR) DO NADA: SER E NÃO SER

           “O SER E O NÃO SER”

É durante a existência que o ser humano se faz se fazendo. Atrelado à teia cósmica existente entre o bem e o mal, o certo e o errado, o profano e o sagrado, a tradição e a modernidade entre outras revezes da vida é que o Homem vai se fazendo existir, existindo. Assim, com passos longos ou curtos, nessa busca ontológica do seu “ser”, ou seja, essa procura do sentido de sua existência, ele é encurralado a escolher que caminhos seguir e é quase que inevitável dissimular a sua fragilidade, sua dor, seus conflitos. Tudo flui nesse jogo e ás vezes é preciso “não ser” para descobrir o “ser” dentro de si, viver e morrer parecem ser reflexos da mesma imagem, a imagem do existir. Desta forma, o estar no mundo e com o mundo é essencial para o ser humano manter o vínculo existencial consigo mesmo e com os outros. Nas palavras de Sartre, se o homem não expressasse esse “vazio de ser”, sua consciência já estaria pronto, acabado fechada, por isso, o homem tem como essência específica o “não ser”, ou seja, algo indefinido e indeterminado.
Nas obras analisadas, os personagens Roquentim, da obra de Sartre, e Mariano, da obra de Mia Couto vão a busca desse “ser ontológico” mergulhando e banhando na própria vida, revisitando o passado, não permitindo que sentimentos, memórias, ou hábitos se imponham sobre o presente, se deparando a todo o momento com a complexidade da experiência do existir: “do ser e do não ser”.
Toda trama do existir dos personagens Mariano e Roquentim inicia-se a partir de uma viagem, uma viagem no sentido de espaço, de deslocamento de um lugar para outro, na perspectiva geográfica, e ao mesmo tempo a viagem na busca de compreender e dar sentido à vida, uma viagem em si mesmo e para si mesmo, cada qual com sua singularidade de seres inacabados.
O personagem Mariano, da obra “Um rio chamado tempo, uma casa chamada Terra”, é um jovem moçambicano intelectual que retorna à sua terra natal “Luar do Chão” quando recebe um chamado vindo através de uma carta para fazer o cortejo fúnebre de seu avô Marianinho. O jovem havia deixado sua terra natal para estudar, e considerando que o conhecimento possibilita a todo ser humana outra visão de mundo, abrindo caminhos para transformá-lo e ao mesmo tempo se transformando, o impacto da existência de Mariano entre o ontem e o hoje vai sendo tecido a partir dessa longa viagem de retorno ao cenário das águas do rio do Madzimi, é o retorno à sua morada, à sua casa, à sua terra natal “Luar do Chão”, onde o mesmo mergulha fundo nas suas memórias de menino. Nesse contexto, tudo se esvai e flui como a própria vida nesse encontro com a tradição, onde a vida está sendo rememorada e espelhada nas águas do rio Madzimi de forma dialética, contraditória, porque há o encontro entre a antítese da tradição e da atualidade.
Numa outra perspectiva está o personagem Antoine Roquentim, da obra “A Náusea” de Jean Paul Sartre. Roquentim é um jovem intelectual historiador, homem viajado com vários olhares sobre o mundo. Ele que durante muito tempo viveu na África Ocidental e na Ásia, viaja para França se instalando especificamente na cidade de Bouville em meio à guerra, para escrever a biografia do Marquês de Rollebon, da corte de Luís XVI. Subitamente, Roquentim é tomado por um mal estar ao adentrar e debruçar na pesquisa biográfica do Marquês, pois acaba fazendo uma viagem para dentro de si através do outro (Marquês de Rollebon e os demais personagens descritos em seu diário), provocando e redimensionando a sua própria existência a partir do esvaziamento de si (não ser) para dar de encontro às escolhas que fez ao longo dessa viagem que é a vida. Tais escolhas ora os perturbam (Mariano e Roquentim), porém os mesmos sabem que foram e são necessárias na construção de sua essência (ser).
Na perspectiva filosófica existencialista os personagens vivem momentos puramente humanos, ou seja, essa viagem na busca ou construção de sua essência faz parte da natureza humana universal (sentimentos, comportamentos, idéias, valores são naturais para a espécie humana) e é o que move e dá sentido à existência, à vida.

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